Eurico Gonçalves | Narrativas de Sonhos

Galeria da Antiga Capitania
Eurico Manuel de Melo Gonçalves nasceu em Penafiel a 7 de janeiro de 1932.
Nesta exposição estão patentes 48 obras de Eurico Gonçalves, desde início dos anos 50 até 2005, da coleção da Fundação Cupertino de Miranda, V.N. Famalicão.
A produção de Eurico Gonçalves no Universo do Surrealismo é original, aproximando-se ao universo onírico através de uma visão mais inocente, ou quase mesmo infantil.
A partir desta exposição podemos observar a evolução da obra deste artista.
Assim, observamos trabalhos mais relacionados com um Surrealismo figurativo, onde aparecem motivos que se irão repetir continuamente na sua obra: os pares amorosos, a forma circular (que pode ser identificado como o Sol, a Lua ou uma bola de brincadeiras de crianças, como no caso de “Os Pássaros”) e a composição que sugere o movimento vertical (visto, mais uma vez, n'”Os Pássaros” e em “Castelo – Auto-retrato profético”).
Em 1951 escreveu e ilustrou narrativas de sonhos, com textos automáticos e poemas, compilados em 4 cadernos manuscritos, resultando a obra que inicia esta exposição.
A partir dos anos 60, a obra de Eurico caracteriza-se por caligrafias a tinta-da- china, que evidenciam o vazio, representado pela nudez branca do papel. As primeiras caligrafias, fortemente influenciadas pela escrita oriental, são verticais. Contudo, encontramos também a sua passagem para a caligrafia horizontal (relacionada com a escrita ocidental, da esquerda para a direita).
Ao aprofundar o automatismo psíquico, através do gestualismo e da caligrafia espontânea, o artista aproximou-se do espírito Zen, de uma arte direta, sem correção nem retoque que, segundo o próprio, encontra afinidades com a atitude Dadaísta.
Ainda na década de 60, Eurico “homenageia” Fernando Pessoa através da série “Põe quanto és no mínimo que fazes”, da qual se apresenta uma amostra.
Durante vários anos, procurou harmonizar uma pintura de signo gestual com a visão da forma circular, através de reações mais espontâneas, indo ao encontro dos propósitos do surrealismo, como podemos observar nas pinturas “Estou vivo e escrevo sol – homenagem a António Ramos Rosa”, “A lua toda brilha”, “Mandala”, onde o disco aparece como um modelo central e universal.
Eurico Gonçalves embarcou “no navio de espelhos” de Mário Cesariny, mas a sua presença – a da pessoa, a da personagem e a do artista – e a sua obra continuam na nossa memória. Com esta exposição pretendemos manter viva essa memória.
Eurico Gonçalves faleceu a 10 de julho de 2022, em Lisboa.
Curadores
Marlene Oliveira e Perfecto Cuadrado